terça-feira, 7 de julho de 2009

Piegas!

Personagens:

Gregório: príncipe de Lituã
Nantúcia: filha do mordomo

Ato I

Lituã - jardim principal do castelo Andrei. (príncipe Gregório sentado à margem do riacho. Entra a jovem Nantúcia).

Nantúcia: Meu senhor! O procurei por toda parte! Por onde andavas?

Gregório: Junto a minha sombra, oras. Não mais além. Dela sou fiel e único companheiro.

Nantúcia: Estão a sua procura, meu senhor. Nosso rei mandou chamar-te.

Gregório: O nosso rei pode esperar. Não tem batalhas a travar nem um ofício digno que lhe tome tempo suficiente para ter pressa. Por isso tanto se ocupa das vidas e reinos alheios.

Nantúcia: E o que digo a vossa majestade, meu senhor?

Gregório: “Meu senhor! Meu senhor!” Pare de farsa, Nantúcia!
Não foi a ordem do rei, tão somente, que te trouxeste até mim. Viestes com as próprias pernas e guiada, ainda, pelo coração.
Vamos! Onde está a mulher atrevida e inteligente que me roubou o coração e, de quebra, levou-me a razão?
És hábil demais, Nantúcia. Sei! Sabes esconder por detrás desse semblante servil a veracidade de seus reais sentimentos, não é mesmo?
O que se passa? Ainda estás zangada com a minha covardia e indecisão?

Nantúcia: Meu senhor, só vim a mando do rei. E creio que já posso voltar com a notícia que estarás diante da presença dele em breve. Certo?

Gregório: Sim! Ainda estás zangada!
Não cale-te a boca, mulher, quando queres falar. Nem construa frases traíras aos seus próprios pensamentos.
Fale! Fale, meu amor. Tire-me dessa angústia e dessas noites sem sono. O que posso fazer para ganhar mais uma vez a direção dos seus olhos e a razão das suas palavras?

Nantúcia: Não estou zangada, meu senhor.
Minhas impressões sobre sua pessoa oscilam tal qual a bolsa de valores de NY. Não conservo mágoas. E nem as quero. Não tenho reservas para isso.

Gregório: Oh, Deus! Oh, rei dos céus e da terra! A ti proclamo misericórdia!
Sábios e felizes são aqueles que entendem as cabeças das mulheres e conduzem seus corações.
O que esperava, minha querida? O que esperava de mim?
Nada poço oferecer-te a não ser a promessa de um digno amor futuro.
Não posso sujar o nosso amor puro com a insânia e imundice deste, que se diz, um reino de vanguarda.
Aquele que governa este país, por meio da ganância e barbárie, certamente destruirá com seus palpites maquiavélicos a sanidade que conservamos. O nosso sentimento nobre, no mais nobre que entoa a palavra.
Oh, Deus! Por que delegaste um pai desse calibre a mim?
Ó, minha amada. Não sei o que fazer!

Nantúcia: Eu não mereço inclinar-me aos seus problemas e inquietações, meu senhor! E nem o mereço.
Tu és clarão e doce como a mais cheirosa flor desse jardim. Mas não pode em mim. Desejo-te sorte e sabedoria.
Tua ilustre razão te encontrará novamente.
Mas creio que devo ir. Seguir em frente. Há muitas estradas lá fora a minha espera. Quero por o pé no chão. Não desejo morrer de amor, não.
Adeus.
Não vou falar ao rei onde estás!
Adeus, meu senhor! (sai)

Gregório: Adeus, minha senhora!
O amor te conduzirá de volta. Porque na estrada do amor só há uma saída.


Continua...

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