segunda-feira, 4 de maio de 2009

A Garota Ideal!

Há pouco mais de um mês vi um atraente filme na Maratona Odeon que me levou a várias reflexões. Tenho pra mim, até mais do que aquelas sugeridas.

O filme chama-se "A Garota Ideal" (no original "Lars and the Real Girl"). Apesar de ser conceituado comédia, soou muito mais como drama. Um drama bastante presente na vida social.

A história gira em torno de Lars, um rapaz tímido e introspectivo, que começa um relacionamento nada convencional com uma boneca inflável. Lars acredita piamente ser a boneca uma mulher de verdade. E faz dela, assim, sua garota ideal.

Através da nítida crise psicológica que atravessa o personagem principal, o filme aborda - sabiamente - a questão do isolamento pessoal e da dificuldade de algumas pessoas em se relacionar emocionalmente com outras.

No entando, não é sobre isso que venho cá escrever. Quer dizer, não exatamente. Vou mais além. Vou sair desse contexto isolamento para entrar naquele sugerido pelo título em português. Desvinculando um pouco a ótica psicológica, social, antropológica e cômica que a trama tenta passar.

Vou falar sobre o sonho de garoto (a) ideal que no fundo, bem camuflado, habita ou já habitou nossos corações!

Serei trash! Mas vou tentar ser com classe!

Na verdade, o filme foi mais um ponto referencial, que me deu um empurrãozinho para escrever sobre um assunto que já venho pensando certo tempo.

Essa ideologia toda sobre companheiro ou companheira ideal é delicada e antiga. Leva àquela questão da importância da compatibilidade, do companheirismo, dos mesmos propósitos, do amor também, lógico, e blá, blá, blá....

É curiosa a preocupação racional que aflinge algumas pessoas na busca pelo par ideal. Digo algumas, porque atualmente tem gente tão egocêntrica, cheias de si, que nem a esse sentimento racional se permitem. Mas elas devem ter seus motivos, claro...

No filme, Bianca aparentemente é a garota ideal para Lars. É tudo que ele precisa e aprecia em uma mulher. Até porque, ele é quem delega e determina as qualidades e os desejos que Bianca tem. Um ótimo exemplo de, como se fosse possível, depositar tudo aquilo que você mais admira em um determinado ser e fazer deste, então, seu ideal parceiro.

O problema é que o conceito de garota ideal é errôneo. Pelo menos nos moldes pré-definidos. Ou seja, você não pode pré definir um sujeito que considera certo. E sim, encontrar alguém, se surpreender com os hábitos, qualidades e defeitos deste alguém e, mesmo assim, descubri-lo ideal pra você.

Eu sei! Estou generalizando! Não há um louco que fique 24 horas moldando em pensamentos um ser. Mas é o que falei: no fundo, nem que seja pequena e camuflada, há essa fantasia. Ou já existiu...


Vou tomar uma vertente totalmente feminista agora: porque as meninas são aquelas que mais sofrem com essa suposta idealização.

Primeiro: acho que ninguém deve preocuparar-se em ser perfeito para ninguém, antes de ser perfeito para si mesmo. Claro que num relacionamento é válido fazer concessões, aperfeiçoar-se para construir uma coisa legal e tudo mais. Mas com seus limites...

Segundo: Simone de Beauvoir não dedicou parte de sua alma para escrever O Segundo Sexo ( que por sinal ainda não li, mas vou) e as meninas jogarem tudo fora e se fazerem especiais, por conveniência, ou para caras que às vezes nem merecem...(ainda bem que o mundo não é mais tão mundo como antigamente)

E terceiro: o ideal é chato. Irritante! Até amigos ideais demais são insuportáveis.

Eu, por exemplo, quando descobri que o meu amigo Wilson ( uma bola) era ideal demais...simplesmente o isolei! E é assim que as coisas são mesmo!

A perfeição é imperfeita.

Não quero um príncipe encantado, que venha em uma Limosine branca e com um buquê de Rosas na mão: até porque tenho pavor a flores (sééério) e Limosine já saiu de moda!