segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tempo, mano velho.

Vejo-te diferente.
Meio calvo. Com a barba e os cabelos grisalhos.
Com expressões faciais que mais parecem cicatrizes.
E olhos fundos.
Observo-te e vejo o quanto o tempo fez-se disposto em deixar sua marca.

Meus olhos curiosos te fitam - surpresos e aflitos. 
E questionam-se: como pôde tudo resumir-se à aparência?

O tempo foi rude contigo. Fez-te velho.
E comigo. Fez-me julgar você só pela aparência.
E não me peças para aceitar a mudança que eu não acompanhei.

Seria capaz de adorar um senhorzinho estranho.
Mas a você velho, não!

A aparência não é nada mesmo.
Mas em você ela soa diferente.
Faz-me contar o tempo e a espera.

Por favor, não me venhas assim, tio, depois de tudo.
Ou verás o quanto a minha superficialidade é capaz de te desprezar a cada ruga que eu notar.
E a contar o tempo que você levou para voltar.  

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O poste!

Dei para namorar os postes de luz da cidade.
Curvados, assim tão magricelos, parecem, sem nada querer, iluminar mais que a fria rua vazia...
Sem ofuscar, são-a-quase-Lua dos tardos dias
E por alí e por lá, estão
ascendendo a madrugada do dia que (não) demora a chegar!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Aí vem o Sol!

Tem de falar. Des-abafar. Ex-ternar. E fazer terno. Senão vira frio. Vazio. Avesso de perdão. Inércia. Passado resignado...e amanhã tem o Sol!

Tu que me deste o teu carinho!

Tu que me deste o teu carinho
E que me deste o teu cuidado,
Acolhe ao peito, como o ninho
Acolhe ao pássaro cansado,
O meu desejo incontentado.

Há longos anos ele arqueja
Em aflitiva escuridão.
Sê compassiva e benfazeja.
Dá-lhe o melhor que ele deseja:
Teu grave e meigo coração.

Sê compassiva. Se algum dia
Te vier do pobre agravo e mágoa,
Atende à sua dor sombria:
Perdoa o mal que desvaria
E traz os olhos rasos de água.

Não te retires ofendida.
Pensa que nesse grito vem
O mal de toda a sua vida:
Ternura inquieta e malferida
Que, antes, não dei nunca a ninguém.

E foi melhor nunca ter dado:
Em te pungido algum espinho,
Cinge-a ao teu peito angustiado.
E sentirás o meu carinho.
E setirás o meu cuidado.

(Manuel Bandeira)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Minuto.

Num movimento vertical, o cara da frente ergueu seu jornal. ‘A tragédia das águas’ era a manchete. Eu tinha o livro do Chico no colo. Chovia fino na minha janela. Advertising Space ensurdecia o ambiente. À minha direita, um rapaz boquiaberto cochilava e caia vez em quando sobre mim. Minha mente saturada das palavras negras no fundo branco do livro doía. O trânsito parou. Parei com ele. Escrevi. Voltei a ler.

domingo, 28 de novembro de 2010

My Blueberry Nights - parte I!

(Cartão Postal – 22/11/2010)

Charlie!

As estradas estão alongando-se de tal forma não prevista. Entropia?
Essa é a impressão que tive quando as enfrentei. O meu referencial agora é palpável e eu chego a essa conclusão me baseando nele.

Confesso que me aventurar sozinha nessa viagem, no início, acrescentou-me certo medo e hesitação. Mas já passou! Encontrei uma coragem absurda de descobrir, comigo, as coisas e as pessoas e os sabores. O prazer é doce e tem gosto de petit gateau.

A cidade é roxa e bem fria. E o café fraco e quente. Adorável!

Hoje conheci seu Boris, um senhor ranzinza de barba cuidadosamente mal feita, prêmio Nobel em mecânica quântica. Ele me falou – enquanto eu gastava os meus curtos minutos de almoço comendo um sanduíche barato que achei vendendo aqui - sobre física e o conceito de entropia. Acho que não entendi direito a ótica de o estado natural das coisas ser o caos, mas adorei a prosa. Essas coisas de filosofias diferentes e outras crenças sempre me agradam. Sei que simpatizei com a entropia.

Quando tiver novas, volto a escrever.

Ah, ouça ‘Yumeji's Theme’. Essa canção tem me ajudado a dormir. Ainda não me curei do fuso horário.

Beijo,
V*

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Móveis coloniais de acajú!

Escrever para materializar sentimentos é camuflar-se nas letras, entrelinhas e possibilidades da ficção. É a inércia das palavras. O conforto da teoria.

Se eu posso se romântica, sonhar e enxergar um mundo mais colorido, faço isso com literatura e escrevendo. Ocultar minhas letras e privar-me de escrever é demasiado racional às palavras singelas. Censura!

E tão pouco sou o que escrevo. Palavras medidas são só o que eu consigo precisar de mim.

Caí de súbito na multidão do show depois do encontro casual. É mesmo tudo um acontecer de encontros e desencontros.