quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Encontros e desencontros!

Lost in translation no original. Uma bela tradução filosófica do mais íntimo e existencialista que há em nós. Superou minhas expectativas.

Muito hesitei em escrever sobre esse filme. Por orgulho ou motivos tolos. Mas não pude ignorar, no entanto, a curiosa miscelânea de sentidos que este Longa despertou-me. Então, resolvi arriscar.

Não vou fazer aqui algum tipo de resenha crítica. Bem longe disso. Apenas tentarei expressar em palavras o que o filme de mais humano e mundano a mim representou.

Sartre, decerto, com todo seu existencialismo humanista, ficaria curioso e intrigado diante dessa obra impecável em forma de película (hahaha). Pois pra mim, antes de tudo, o filme é essencialmente humano, subjetivo. Existencialista.

Na terra nipônica - mais precisamente em Tóquio - região metropolitana onde tudo parece estar em "transição", os personagens Bob e Charlotte (dois americanos perdidos em chão estrangeiro) encontram um no outro uma cumplicidade. Uma compreensão recíproca. Ou melhor, encontram-se.

A escolha de Tóquio para as locações é mais que um pretexto. A cidade evidencia exatamente essa transição (ao qual o título refere-se) de momentos, de tecnologias, da globalização e tudo mais em que o mundo se tornou.

E, principalmente, representa, com analogia, esse momento de transição de valores, sentimentos, inquietações, dúvidas, amores que os personagens estão passando. Que eu estou passando! Que os telespectadores! Os seres humanos, os maiores reféns das transformações, estão. Ou vão passar.

Com efeito, é assim que o filme se faz humano!

Nesse contexto, de encontros e desencontros, a relação dos dois é olímpica e comovente. Diante desse êxtase de acontecimentos e perdas (de si próprios) que os norteiam é que eles se descobrem. Ajudando um ao outro a se revelarem a si mesmo.

Lost in Translation é construído por diálogos reveladores. Bem pessoais. Mas são nos “não-diálogos”, sem dúvida, que o filme alcança sua glória. É de uma sutileza...

Além de ser muito filosófico e questionador, o longa é também reconfortante e traz “respostas”. Há duas cenas lindas que a mim tocaram muito:

- Uma delas é quando Bob responde a Charlotte, no primeiro encontro deles no bar, que ela irá encontrar uma maneira de sustentar-se com aquilo que escolheu como profissão - filosofia. (Isso é tão reconfortante em meio a essa concorrência capitalista em que vivemos.)

- A outra, é quando Charlotte resumi em uma frase o filme todo: “I don't know what i'm supposed to be”

A cena do elevador também é fantástica. Representa aquele dilema entre o ficar ou ir (should I stay or should I go?). O proibido e o desejo. Tem muitas cenas boas para selecionar uma só melhor.

É assim que o filme te invade. Uma vez que, no nosso mais íntimo, todos nós queremos de certo modo ser encontrados e compreendidos.

Uma vez que só queremos ficar e iniciar uma jazz band.


"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida." ( Vinícius de Moraes)