sexta-feira, 24 de junho de 2011

Aí vem o Sol!

Tem de falar. Des-abafar. Ex-ternar. E fazer terno. Senão vira frio. Vazio. Avesso de perdão. Inércia. Passado resignado...e amanhã tem o Sol!

Tu que me deste o teu carinho!

Tu que me deste o teu carinho
E que me deste o teu cuidado,
Acolhe ao peito, como o ninho
Acolhe ao pássaro cansado,
O meu desejo incontentado.

Há longos anos ele arqueja
Em aflitiva escuridão.
Sê compassiva e benfazeja.
Dá-lhe o melhor que ele deseja:
Teu grave e meigo coração.

Sê compassiva. Se algum dia
Te vier do pobre agravo e mágoa,
Atende à sua dor sombria:
Perdoa o mal que desvaria
E traz os olhos rasos de água.

Não te retires ofendida.
Pensa que nesse grito vem
O mal de toda a sua vida:
Ternura inquieta e malferida
Que, antes, não dei nunca a ninguém.

E foi melhor nunca ter dado:
Em te pungido algum espinho,
Cinge-a ao teu peito angustiado.
E sentirás o meu carinho.
E setirás o meu cuidado.

(Manuel Bandeira)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Minuto.

Num movimento vertical, o cara da frente ergueu seu jornal. ‘A tragédia das águas’ era a manchete. Eu tinha o livro do Chico no colo. Chovia fino na minha janela. Advertising Space ensurdecia o ambiente. À minha direita, um rapaz boquiaberto cochilava e caia vez em quando sobre mim. Minha mente saturada das palavras negras no fundo branco do livro doía. O trânsito parou. Parei com ele. Escrevi. Voltei a ler.