sexta-feira, 27 de novembro de 2009

02:05

Não é que eu não goste de fantasiar mais. Eu não escrevo.

As letras me foram tão encomendadas que não me julgo mais capaz de merecê-las. Sinto-me na função de só uní-las e harmonizá-las a um contexto e sentido qualquer. Tem sido assim lá no estágio.

Isso não é escrever. É des-crever. No sentido pejorativo-denotativo da palavra. Se é que me faço entender.

Escrever é Criar. É burlar regras e normas. Ursupar sentidos. Inovar. Fantasiar. Metaforiar. É acrescentar ao léxico.

É estar acordada às 2h5 da manhã buscando soluções para se despir dos padrões. Bem como das imposições.

Por sorte tenho eu esse espaço aqui. Salvo dos manuais da padronização.

Ler pra mim tem sintoma inverso: não me inspira. Des-inspira.
Quanto mais eu leio e enamoro-me das letras alheias.
Mais indiferença e desgosto tenho das minhas. Próprias!

O que se há de fazer? 'Devolver a pena ao ganso'?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O E-mail!

Querida vevê,

Acho que posso apelidar-te assim, certo? Já que pelos meus cálculos você ainda atende por esse chamado.

As coisas mudaram um bom bocado. Ficaram mais ranzinzas e sérias. Pesadas.
Ninguém mais usa apelidos hoje em dia. Eles ficam pra trás tais como a doçura e a puerilidade que invocam também ficam.

Hoje faz um azul e quente domingo de dezembro. O verão acabou de começar a torrar ainda mais as flores - tão pouco brotadas na primavera - os campos e as nossas cabeças. A intensidade da temperatura dos tempos de cá, nunca dantes sentidos em verão similar nos tempos daí, certamente é resultado das desenfreadas e imprudentes ações do homem à natureza. Lamentável. Notável.

Mexendo em coisas velhas do baú de memórias, encontrei uns livros e CDS seus antigos. Músicas boas. Coisas boas. Canções do tempo em que as letras e as harmonias das palavras com às melodias eram mais importantes que esses arranjos eletrônicos de atualmente, que tornam inaudíveis qualquer emoção. Literatura romântica clássica - livros caducos com anotações e observações suas. Que não perderam o charme, a contemporaneidade, muito menos a magia, na imensidão de poeira em que se encontram.

Meus olhos deitaram naquele que era seu favorito. Pergunto-me se ainda o é e já não tenho mais certeza. O Post Scriptum que você mesmo deixou na obra emocionou-me com a ingenuidade saudosa. Perdida.

Após ouvir um pouco de Los Hermanos, Legião, Titãs e algumas de Chico, “Epitáfio” despertou-me estranha nostalgia. Entre uma tragada, melodia e outra, resolvi escrever-te essas palavras. Conservando em mim as esperanças que, se anunciadas as conseqüências, tu tivesses a sorte de transformá-las. De tudo mudar. Pode parecer estranho escrever assim, mas as intenções são das melhores.

Ah, pois é, deixe-me esclarecer: faço parte agora, para o seu desgosto, do clube dos raros baforadores existentes hoje em dia. O que faz de mim quase um vírus letal à sociedade.

Desconheço quando e razões que me levaram ao hábito de fumar. E já vou lhe informando de antemão que nem todas as ideologias e valores e luxos que costumávamos ter permanecerão vivos. O idealismo e certos caprichos também mudam no duelo com o real.

Talvez tenham sido os ócios do ofício ou as amarguras da vida. Não sei. Só reconheço a imprescindível companhia do cigarro em meus momentos de solidão. Pareço-me ter esquecido das promessas “geração saúde” que pactuamos. Sei!

Minha nossa! Quanta falta você faz. É miserável a saudade que tenho da sua alegria, juventude e fé. Você costumava fazer-me crer que o futuro era nosso. Costumava me ajudar a gabar do amor.

Como era bela também. Creio que ainda seja. Todos somos! Mas até a idade Balzaquiana.

Adoraria poder adiantar-te uns bons “furos”. Poderiam lhe servir de valor profissional. Embora não tenha tanta certeza devida a essa democratização da informação e dos meios de comunicação. A revolução da informação realmente aconteceu.

Também não quero acabar com o prazer da surpresa, não. E ética profissional é uma coisa que ainda valorizo. Nunca se esqueça disso.

Não sei se essas palavras farão algum sentido agora, mas só quero tornar as coisas mais fáceis pra nós, meu bem. A cada instante vivo a procurar o que restou em mim de você. E é assustador porque realmente não quero perder-te.

Contudo, não me restam dúvidas: se essa comunicação for mesmo possível, sei que saberá fazê-la útil. Confio em você. Não escreveria isso se fosse diferente. Então,

Viva o que há pra viver. Caia de amor. Não seja condescendente demais também, isso não é necessário. Pense dez vezes antes de dar sua primeira tragada (Sério). E junte dinheiro, compre sua “La poderosa”, coloque o pé na estrada, vá ao México, beba muitas Margaritas e seja feliz. Você irá se lamentar muito se não o fizer.


Encontramos-nos em breve!

“All we need is just little patience”

Take care of yourself,
Verônica Vasque.
15 de dezembro de 2029

P.S.: O Mundo não acabou em 2012. E o Fluminense não caiu pra série B em 2009.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Happiness is a warm gun!

Pai - Você é feliz, filha?

Vevê – Nop! No momento, não, pai. Tenho de terminar de ler esse livro aqui. Nem peguei no jornal ainda. Não estou com a mínima vontade de ir ao estágio hoje. Meu instrutor é um machista que, além de não valorizar o desenvolvimento das mulheres na sociedade, não acredita no potencial da minha baliza.
E, pra variar, bati com meu querido pé na porta do quarto. Tá doendo, droga!

Pai – (Risos). Então por que você não experimenta desacelerar um pouco?

Vevê – Se eu desacelerar é pior, pai. Acredite! Mas não se acanhe, não. Nem você e nem ninguém é responsável pelo meu desagradável momento. É problema meu. O que não te impede de fazer um carinho no meu pezinho direito, né?! Poxa, dessa vez a pancada foi forte! hãm? heinn?

Frequentemente meu pai perturba meu estado de espírito com essa pergunta categórica. Assim, de repente, ele lança esse aforismo a minha alma. Como se estivesse mesmo muito preocupado com a resposta. E como se a condição deu estar feliz ou não fosse, sim, um problema dele. Ou melhor, fosse inerente as suas ações. Ou ao que ele reservou a minha vida. Parece.

E, na qualidade de pai, imagino eu, que isso realmente seja uma preocupação para ele.

A situação acima mencionada foi uma exceção. Na esmagadora maioria das vezes em que ele me direge essa pergunta, eu não levo na esportiva fazendo comparaçõezinhas vãs que, dentro do contexto, justificariam meu estado infeliz.

Eu falo sério (até porque não gosto que meu pai fique lembrando-me toda hora dessa tal “felicidade” e que é importante alcançá-la e talz e talz e talz).

Eu penso o momento (ao qual ele fez a pergunta) e digo a minha impressão sobre o mesmo – se é um momento feliz, infeliz ou normal.

Sim! Sou cruel!

Mas raramente respondo a alternativa “infeliz”. Pra falar a verdade, nem lembro da vez que usei essa opção.

Resumo a minha resposta – como uma maneira de fugir logo da pergunta - dizendo que a felicidade é efêmera. Mutável. Sensível.

E completo dizendo que, esse tal “Mundo das Idéias”, ao qual Platão um dia tentou teorizar, não passava de uma tentativa covarde, considerada as circunstâncias frustrantes (infelizes) que ele deve ter passado em vida, de projetar uma felicidade transcendental.

Uma maneira fácil de morrer com esse assunto com meu pai. Pois é!

A felicidade é uma questão, se assim posso colocar, que, bem ou mal, todos nós aspiramos ou cogitamos alcançar de certa forma. É inegável. (Curioso eu dizer isso tendo em vista, até então, a minha absoluta despreocupação com essa busca loucaaa e a minha parcial despreocupação com o amanhã. Carpe Diem! Haha).

O grande problema, no entanto, que eu venho observando, é como as pessoas relacionam, tão somente, a sorte e a validade de sua felicidade às pessoas que amam e que dizem amá-las. It's so sad!!

Tudo bem, você não vai ser completamente feliz se seus familiares, amigos, seu cachorro e todo o ser que você coloca amor não passar bem e não compartilhar desse estado com você. Eu sei.

Mas você não pode cobrar deles a sorte de sua felicidade. E nem deve cobrar tanto isso de si mesmo em relação ao próximo. O grande mistério é que esse impulso e essa vontade de encontrar o bem-estar, em minha opinião, têm de partir de nós mesmo.

A alegria individual deve anteceder a alegria social. Mas isso nada tem a ver com egoísmo. E, sim, com harmonia pessoal. Longe de mim fazer alguma apologia ao egocentrismo. No way!

Enfim, é aquela velha história: o que adianta estarmos bem com o outro se não estamos bem com nós mesmo?! Vai faltar algo, não vai?

Talvez seja por isso que existem tantas pessoas reclamando de infelicidades conjugais e tudo mais. Talvez porque elas se esqueceram de procurar a solução do problema nelas próprias. Ou, então, porque estão procurando equivocadamente a felicidade em bens materiais.

Imagine um mundo em que cada um fizesse sua parte quanto ao que coloquei. Acho que é sonhar um pouco demais, né?!

Porém, todavia, contudo, entretanto, considerando a relatividade do conceito felicidade, esse post aqui nada quer dizer.

Ou seja, vai ver a plena felicidade deva estar lá, no “Mundo das Idéias”.

Vai entender.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Encontros e desencontros!

Lost in translation no original. Uma bela tradução filosófica do mais íntimo e existencialista que há em nós. Superou minhas expectativas.

Muito hesitei em escrever sobre esse filme. Por orgulho ou motivos tolos. Mas não pude ignorar, no entanto, a curiosa miscelânea de sentidos que este Longa despertou-me. Então, resolvi arriscar.

Não vou fazer aqui algum tipo de resenha crítica. Bem longe disso. Apenas tentarei expressar em palavras o que o filme de mais humano e mundano a mim representou.

Sartre, decerto, com todo seu existencialismo humanista, ficaria curioso e intrigado diante dessa obra impecável em forma de película (hahaha). Pois pra mim, antes de tudo, o filme é essencialmente humano, subjetivo. Existencialista.

Na terra nipônica - mais precisamente em Tóquio - região metropolitana onde tudo parece estar em "transição", os personagens Bob e Charlotte (dois americanos perdidos em chão estrangeiro) encontram um no outro uma cumplicidade. Uma compreensão recíproca. Ou melhor, encontram-se.

A escolha de Tóquio para as locações é mais que um pretexto. A cidade evidencia exatamente essa transição (ao qual o título refere-se) de momentos, de tecnologias, da globalização e tudo mais em que o mundo se tornou.

E, principalmente, representa, com analogia, esse momento de transição de valores, sentimentos, inquietações, dúvidas, amores que os personagens estão passando. Que eu estou passando! Que os telespectadores! Os seres humanos, os maiores reféns das transformações, estão. Ou vão passar.

Com efeito, é assim que o filme se faz humano!

Nesse contexto, de encontros e desencontros, a relação dos dois é olímpica e comovente. Diante desse êxtase de acontecimentos e perdas (de si próprios) que os norteiam é que eles se descobrem. Ajudando um ao outro a se revelarem a si mesmo.

Lost in Translation é construído por diálogos reveladores. Bem pessoais. Mas são nos “não-diálogos”, sem dúvida, que o filme alcança sua glória. É de uma sutileza...

Além de ser muito filosófico e questionador, o longa é também reconfortante e traz “respostas”. Há duas cenas lindas que a mim tocaram muito:

- Uma delas é quando Bob responde a Charlotte, no primeiro encontro deles no bar, que ela irá encontrar uma maneira de sustentar-se com aquilo que escolheu como profissão - filosofia. (Isso é tão reconfortante em meio a essa concorrência capitalista em que vivemos.)

- A outra, é quando Charlotte resumi em uma frase o filme todo: “I don't know what i'm supposed to be”

A cena do elevador também é fantástica. Representa aquele dilema entre o ficar ou ir (should I stay or should I go?). O proibido e o desejo. Tem muitas cenas boas para selecionar uma só melhor.

É assim que o filme te invade. Uma vez que, no nosso mais íntimo, todos nós queremos de certo modo ser encontrados e compreendidos.

Uma vez que só queremos ficar e iniciar uma jazz band.


"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida." ( Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Quase um Sheik Valentino...

Lá vinha ele, sucedendo-se entre as moças e moças-donzelas da região. Com seu peculiar jeito cabreiro sedutor.

Não perdia tempo. E como não perdia. O Don Juan das redondezas não escondia o fardo de ser como é. Ao contrário. Fazia do fardo a bandeira de sua virilidade. Tal como a cobra mais venenosa faz do veneno.

Tamanho garbo e altivez exuberavam galanteias até nas mais das mais donzelas das donzelas. Era puro charme. Mais que encanto pessoal - era um macho alfa. E sem primazia.

Afável como si só, parecia colecionar o que mais convém de cada um da espécie dos seus. Na boca das moças, e até na dos discípulos de seus métodos empíricos comprovados, era aclamado como o sabichão, o padre-mestre no assunto mulher.

Promessas de amor, namorico, casamento, vindas dele, pareciam mais lorotas para nenê ninar. Coitadas delas, daquelas, donzelas que foste por ele envenenado. Ah, coitadas.

Não, não coitadas! Cair num papo fanfarrão assim não merece compaixão, não! Ora, Oras.

Como já disse, o verdadeiro Don Juan não negava o que era. E era mais que ser – era um estar constante. A cumplicidade perfeita de um ser e estar personificada em homem.

Pertencia a ele. A elas. Ao seu harém.

Era singular. Mesmo sendo plural em virilidades.

Todavia, por detrás daqueles encantadores óculos Ray Ban – tão dele como ele - havia um homem só. Mesmo muito acompanhado.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Piegas!

Personagens:

Gregório: príncipe de Lituã
Nantúcia: filha do mordomo

Ato I

Lituã - jardim principal do castelo Andrei. (príncipe Gregório sentado à margem do riacho. Entra a jovem Nantúcia).

Nantúcia: Meu senhor! O procurei por toda parte! Por onde andavas?

Gregório: Junto a minha sombra, oras. Não mais além. Dela sou fiel e único companheiro.

Nantúcia: Estão a sua procura, meu senhor. Nosso rei mandou chamar-te.

Gregório: O nosso rei pode esperar. Não tem batalhas a travar nem um ofício digno que lhe tome tempo suficiente para ter pressa. Por isso tanto se ocupa das vidas e reinos alheios.

Nantúcia: E o que digo a vossa majestade, meu senhor?

Gregório: “Meu senhor! Meu senhor!” Pare de farsa, Nantúcia!
Não foi a ordem do rei, tão somente, que te trouxeste até mim. Viestes com as próprias pernas e guiada, ainda, pelo coração.
Vamos! Onde está a mulher atrevida e inteligente que me roubou o coração e, de quebra, levou-me a razão?
És hábil demais, Nantúcia. Sei! Sabes esconder por detrás desse semblante servil a veracidade de seus reais sentimentos, não é mesmo?
O que se passa? Ainda estás zangada com a minha covardia e indecisão?

Nantúcia: Meu senhor, só vim a mando do rei. E creio que já posso voltar com a notícia que estarás diante da presença dele em breve. Certo?

Gregório: Sim! Ainda estás zangada!
Não cale-te a boca, mulher, quando queres falar. Nem construa frases traíras aos seus próprios pensamentos.
Fale! Fale, meu amor. Tire-me dessa angústia e dessas noites sem sono. O que posso fazer para ganhar mais uma vez a direção dos seus olhos e a razão das suas palavras?

Nantúcia: Não estou zangada, meu senhor.
Minhas impressões sobre sua pessoa oscilam tal qual a bolsa de valores de NY. Não conservo mágoas. E nem as quero. Não tenho reservas para isso.

Gregório: Oh, Deus! Oh, rei dos céus e da terra! A ti proclamo misericórdia!
Sábios e felizes são aqueles que entendem as cabeças das mulheres e conduzem seus corações.
O que esperava, minha querida? O que esperava de mim?
Nada poço oferecer-te a não ser a promessa de um digno amor futuro.
Não posso sujar o nosso amor puro com a insânia e imundice deste, que se diz, um reino de vanguarda.
Aquele que governa este país, por meio da ganância e barbárie, certamente destruirá com seus palpites maquiavélicos a sanidade que conservamos. O nosso sentimento nobre, no mais nobre que entoa a palavra.
Oh, Deus! Por que delegaste um pai desse calibre a mim?
Ó, minha amada. Não sei o que fazer!

Nantúcia: Eu não mereço inclinar-me aos seus problemas e inquietações, meu senhor! E nem o mereço.
Tu és clarão e doce como a mais cheirosa flor desse jardim. Mas não pode em mim. Desejo-te sorte e sabedoria.
Tua ilustre razão te encontrará novamente.
Mas creio que devo ir. Seguir em frente. Há muitas estradas lá fora a minha espera. Quero por o pé no chão. Não desejo morrer de amor, não.
Adeus.
Não vou falar ao rei onde estás!
Adeus, meu senhor! (sai)

Gregório: Adeus, minha senhora!
O amor te conduzirá de volta. Porque na estrada do amor só há uma saída.


Continua...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Eu desejaria..

Eu desejaria escrever.
E o pior é que poderia.
A liberdade do mundo servir-me-ia.

Ah, hostil liberdade!
Por que me deixaste assim? Ô, inércia de matar.

Nada promete. Nada descarta. Nada arrisca.
Nem rabisca.

E o que faço com as folhas em branco?
Com a imaginação reprimida?
Com a narrativa não contada?
Com o leitor não alcançado?

Ah, covarde liberdade!
Por que me deixaste assim? Ô, inércia de matar.

Xô, moleza! Deixe-me aventurar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A Garota Ideal!

Há pouco mais de um mês vi um atraente filme na Maratona Odeon que me levou a várias reflexões. Tenho pra mim, até mais do que aquelas sugeridas.

O filme chama-se "A Garota Ideal" (no original "Lars and the Real Girl"). Apesar de ser conceituado comédia, soou muito mais como drama. Um drama bastante presente na vida social.

A história gira em torno de Lars, um rapaz tímido e introspectivo, que começa um relacionamento nada convencional com uma boneca inflável. Lars acredita piamente ser a boneca uma mulher de verdade. E faz dela, assim, sua garota ideal.

Através da nítida crise psicológica que atravessa o personagem principal, o filme aborda - sabiamente - a questão do isolamento pessoal e da dificuldade de algumas pessoas em se relacionar emocionalmente com outras.

No entando, não é sobre isso que venho cá escrever. Quer dizer, não exatamente. Vou mais além. Vou sair desse contexto isolamento para entrar naquele sugerido pelo título em português. Desvinculando um pouco a ótica psicológica, social, antropológica e cômica que a trama tenta passar.

Vou falar sobre o sonho de garoto (a) ideal que no fundo, bem camuflado, habita ou já habitou nossos corações!

Serei trash! Mas vou tentar ser com classe!

Na verdade, o filme foi mais um ponto referencial, que me deu um empurrãozinho para escrever sobre um assunto que já venho pensando certo tempo.

Essa ideologia toda sobre companheiro ou companheira ideal é delicada e antiga. Leva àquela questão da importância da compatibilidade, do companheirismo, dos mesmos propósitos, do amor também, lógico, e blá, blá, blá....

É curiosa a preocupação racional que aflinge algumas pessoas na busca pelo par ideal. Digo algumas, porque atualmente tem gente tão egocêntrica, cheias de si, que nem a esse sentimento racional se permitem. Mas elas devem ter seus motivos, claro...

No filme, Bianca aparentemente é a garota ideal para Lars. É tudo que ele precisa e aprecia em uma mulher. Até porque, ele é quem delega e determina as qualidades e os desejos que Bianca tem. Um ótimo exemplo de, como se fosse possível, depositar tudo aquilo que você mais admira em um determinado ser e fazer deste, então, seu ideal parceiro.

O problema é que o conceito de garota ideal é errôneo. Pelo menos nos moldes pré-definidos. Ou seja, você não pode pré definir um sujeito que considera certo. E sim, encontrar alguém, se surpreender com os hábitos, qualidades e defeitos deste alguém e, mesmo assim, descubri-lo ideal pra você.

Eu sei! Estou generalizando! Não há um louco que fique 24 horas moldando em pensamentos um ser. Mas é o que falei: no fundo, nem que seja pequena e camuflada, há essa fantasia. Ou já existiu...


Vou tomar uma vertente totalmente feminista agora: porque as meninas são aquelas que mais sofrem com essa suposta idealização.

Primeiro: acho que ninguém deve preocuparar-se em ser perfeito para ninguém, antes de ser perfeito para si mesmo. Claro que num relacionamento é válido fazer concessões, aperfeiçoar-se para construir uma coisa legal e tudo mais. Mas com seus limites...

Segundo: Simone de Beauvoir não dedicou parte de sua alma para escrever O Segundo Sexo ( que por sinal ainda não li, mas vou) e as meninas jogarem tudo fora e se fazerem especiais, por conveniência, ou para caras que às vezes nem merecem...(ainda bem que o mundo não é mais tão mundo como antigamente)

E terceiro: o ideal é chato. Irritante! Até amigos ideais demais são insuportáveis.

Eu, por exemplo, quando descobri que o meu amigo Wilson ( uma bola) era ideal demais...simplesmente o isolei! E é assim que as coisas são mesmo!

A perfeição é imperfeita.

Não quero um príncipe encantado, que venha em uma Limosine branca e com um buquê de Rosas na mão: até porque tenho pavor a flores (sééério) e Limosine já saiu de moda!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Os desafinados também têm um coração...

Sabe o que é pior? Quando um colega teu te atravessa a alma com uma dessas:

- sabe aquela música, daquela banda X !? Aquela, menina, que baixei no meu mp4. E no meu pc também! Poxa! Ouço direto. Tá sempre dando as caras lá no meu msn. Boa, né?

- aham (desconversando)

- Então, é um Hardcore maneiro. Me amarro. E aí, tem ouvido muito também?

- É que ando meio sem tempo para baixar músicas e tal, sabe? Tenho escutado as antigas, que já estão no meu mp3.

- Atah. Sei como é. (demasiadamente incrédulo)

Já basta você querer estar em dia no acumulado de textos e afazeres que uma faculdade de comunicação requer. Ter de acompanhar a vergonhosa chacota que o Congresso consegue fazer diariamente. Sacar de economia para tentar entender toda essa oscilação das bolsas - que uns executivos imperialistas norte-americanos e sem coração infestaram no sistema. Ser uma pseudo-entendedora de futebol. E, ainda, tentar não preterir todos os romances e filmes que você separou com todo carinho na estante de sua casa e/ou cogitou ler, assistir.

Já basta você ter que conviver com isso tudo (isso quando consegue). Pedir que saiba a fundo de música e, principalmente, de Rock (e suas consoantes) é um pouco demais, não acha?

Esse aglomerado de bandas e gêneros - cada vez mais ramificados - musicais que surgiram e estão surgindo no cenário fonográfico chega ser assustador. Cada vez mais variações vão sendo percebidas e dissipadas. Parece haver uma mutação constante acontecendo na música. E para o meu desespero, carregam pra si números e mais números de fãs.

Desde o aparecimento do Rock, lá pela década de 50, até os dias atuais, tem-se notado uma infinidade de sub-gêneros do mesmo. Como: Indie Rock, Punk Rock, Grunge, Rock Pisicodélico e muitos muitos outros.

E quando eu deveria achar isso tudo muito progressista, coerente com o curso da história. Coerente com advento de novas tecnologias e ferramentas instrumentais promotoras de novas singularidades aos “sons” e, também resultado idéias genuínas, ao invés de achar isso e ser partidária desse crescimento – eu desespero-me.

Acho uma perda de personalidade. E acho também isso tudo muito comercial.
Mas sei que muita gente não pensa assim.

É extremamente constrangedor passar por uma ocasião parecida com a mencionada acima. Pelo menos para mim.

Não que eu não ache agregador um sujeito ficar todo antenado nos novos top fives da música. Marcar presença constante no Last Fm. E acompanhar a trajetória e evolução das suas bandas e músicos favoritos. Acho lindo e até tenho inveja disso. É legal você educar e desenvolver seus ouvidos.

No entanto, é extremamente brochante aquele sujeito que, além de seguir os caminhos (ou descaminhos) musicais tomados por seus músicos prediletos, ainda consegue encontrar tempo e entendimento para os demais (Com estilos diferentes). Ah! Vai ser eclético assim lá em Pindamonhangaba.

Acho que isso tem que partir da pessoa. Se você gosta dessa mescla toda de sons e até consegue classificar/ identificar particularidades de um rock para o outro e, ainda faz uma faculdade que não é de música: Parabéns! Seus ouvidos são realmente promissores. E você também! Mas, por favor, não esbanja isso para pessoas leigas no assunto como eu, não. Não sabe a depressão que isso causa.

Talvez eu que seja fiel demais ao meu “estilo”. Não sei!

E não tenho credibilidade nenhuma para falar nesse assunto todo que dissertei.

Embora não seja conhecedora e adepta a toda essa evolução musical, também não estou desmerecendo a minha skill de fazer uma matéria "boazona" sobre alguma bandinha dessa linha, para uma Rollings Stones da vida, por exemplo. Caso a mim fosse atribuída essa função. E caso eu estagiasse numa editoria de cultura e numa revista com a Rollings. Afinal, para que serve o Wikipedia?

Mas isso tudo é balela.

Quer saber: o que eu quero mesmo é fazer um curso “intensivão” das fases do Rock e nunca mais boiar numa conversa de bar.

Sei lá...


Lá estava, com os meus botões, contemplando alguns dos meus poemas favoritos. Reapreciando-os. Suscitando em mim emoções e sentidos por eles não despertados outrora. E ainda, Inundada por uma tarde calma de domingo, em que o tempo parecia a qualquer momento pôr à prova sua capacidade de chover.


Cal ma e atenta a mim. Dispersa do mundo. Debruçava minha alma naquele momento.
Naqueles versos que acariciavam meu pensar.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fora do Contexto!

Era uma bela manhã de domingo. Daquelas que começam com o canto dos galos, o ecoar dos pássaros, o Sol radiante e com o bom e velho humor de Mrs Jones.

Mrs Jones, como sempre, gostava de acordar cedo aos domingos. Como trabalhava muito nos dias úteis, dedicava-se mais ao lar e à família nos finais de semana. E nesse dia não ia ser diferente, mesmo a casa tendo adormecido mais cheia do que de costume.

Estavam presentes seus familiares - o que resultou em uma pilha de louças, papéis jogados por toda parte e almofadas no chão. Sem falar nas sobras do jantar e nas guloseimas ainda postas na mesa, confirmando o quanto o sábado passado havia sido agradável.

Nesse dia, Mrs Jones acordou diferente. Estava satisfeita, animada com a bagunça total em que se encontrava sua casa. Afinal de contas, o dia estava entoado e, nem mesmo alguns copinhos a menos na despensa e uns caquinhos a mais para limpar pareciam tirá-la a empolgação. A saudade apaziguada pelo reencontro com as primas, primos, tios, sobrinhos e até mesmo com os pais – que não era tão ausentes como os demais – a recompensava.

Contava ela também com as prestativas parentas, que começaram desde cedo a ajudá-la na organização. Entre elas, tia Tess se mostrava com boa serventia. Botava ordem na bagunça ao mesmo tempo em que as crianças e os maridos continuavam com seus sonos profundos, conseqüência das altas horas em claro da noite anterior.

Enquanto as mulheres colocavam a mesa do café com um jeitinho diferente e com quitutes especiais, Jones arrumava a sala ao som de uma velha canção que sintonizava bem o clima da manhã. Tudo estava em perfeita harmonia e, um ar familiar e pacífico tomou conta de sua casa.

Aos poucos tudo voltava aos seus devidos lugares. Com a mesa do café já posta, a família acordava em peso e começava a degustar as iguarias feitas com todo apreço pela anfitriã.

Ao redor da mesa, todos gozavam de uma imensa felicidade. Mas parecia faltar alguém: a filha caçula de Mrs Jones que acabara de acordar.

Caminhando alegremente em direção à mesa, com uma boneca entre as mãos, disse à mãe que o Papai Noel havia lido sua cartinha. E a mulher, acentuando um sorriso, orgulhou-se por ter dado à filha um aprazível presente.

Era a manhã de Natal.