terça-feira, 27 de outubro de 2009

O E-mail!

Querida vevê,

Acho que posso apelidar-te assim, certo? Já que pelos meus cálculos você ainda atende por esse chamado.

As coisas mudaram um bom bocado. Ficaram mais ranzinzas e sérias. Pesadas.
Ninguém mais usa apelidos hoje em dia. Eles ficam pra trás tais como a doçura e a puerilidade que invocam também ficam.

Hoje faz um azul e quente domingo de dezembro. O verão acabou de começar a torrar ainda mais as flores - tão pouco brotadas na primavera - os campos e as nossas cabeças. A intensidade da temperatura dos tempos de cá, nunca dantes sentidos em verão similar nos tempos daí, certamente é resultado das desenfreadas e imprudentes ações do homem à natureza. Lamentável. Notável.

Mexendo em coisas velhas do baú de memórias, encontrei uns livros e CDS seus antigos. Músicas boas. Coisas boas. Canções do tempo em que as letras e as harmonias das palavras com às melodias eram mais importantes que esses arranjos eletrônicos de atualmente, que tornam inaudíveis qualquer emoção. Literatura romântica clássica - livros caducos com anotações e observações suas. Que não perderam o charme, a contemporaneidade, muito menos a magia, na imensidão de poeira em que se encontram.

Meus olhos deitaram naquele que era seu favorito. Pergunto-me se ainda o é e já não tenho mais certeza. O Post Scriptum que você mesmo deixou na obra emocionou-me com a ingenuidade saudosa. Perdida.

Após ouvir um pouco de Los Hermanos, Legião, Titãs e algumas de Chico, “Epitáfio” despertou-me estranha nostalgia. Entre uma tragada, melodia e outra, resolvi escrever-te essas palavras. Conservando em mim as esperanças que, se anunciadas as conseqüências, tu tivesses a sorte de transformá-las. De tudo mudar. Pode parecer estranho escrever assim, mas as intenções são das melhores.

Ah, pois é, deixe-me esclarecer: faço parte agora, para o seu desgosto, do clube dos raros baforadores existentes hoje em dia. O que faz de mim quase um vírus letal à sociedade.

Desconheço quando e razões que me levaram ao hábito de fumar. E já vou lhe informando de antemão que nem todas as ideologias e valores e luxos que costumávamos ter permanecerão vivos. O idealismo e certos caprichos também mudam no duelo com o real.

Talvez tenham sido os ócios do ofício ou as amarguras da vida. Não sei. Só reconheço a imprescindível companhia do cigarro em meus momentos de solidão. Pareço-me ter esquecido das promessas “geração saúde” que pactuamos. Sei!

Minha nossa! Quanta falta você faz. É miserável a saudade que tenho da sua alegria, juventude e fé. Você costumava fazer-me crer que o futuro era nosso. Costumava me ajudar a gabar do amor.

Como era bela também. Creio que ainda seja. Todos somos! Mas até a idade Balzaquiana.

Adoraria poder adiantar-te uns bons “furos”. Poderiam lhe servir de valor profissional. Embora não tenha tanta certeza devida a essa democratização da informação e dos meios de comunicação. A revolução da informação realmente aconteceu.

Também não quero acabar com o prazer da surpresa, não. E ética profissional é uma coisa que ainda valorizo. Nunca se esqueça disso.

Não sei se essas palavras farão algum sentido agora, mas só quero tornar as coisas mais fáceis pra nós, meu bem. A cada instante vivo a procurar o que restou em mim de você. E é assustador porque realmente não quero perder-te.

Contudo, não me restam dúvidas: se essa comunicação for mesmo possível, sei que saberá fazê-la útil. Confio em você. Não escreveria isso se fosse diferente. Então,

Viva o que há pra viver. Caia de amor. Não seja condescendente demais também, isso não é necessário. Pense dez vezes antes de dar sua primeira tragada (Sério). E junte dinheiro, compre sua “La poderosa”, coloque o pé na estrada, vá ao México, beba muitas Margaritas e seja feliz. Você irá se lamentar muito se não o fizer.


Encontramos-nos em breve!

“All we need is just little patience”

Take care of yourself,
Verônica Vasque.
15 de dezembro de 2029

P.S.: O Mundo não acabou em 2012. E o Fluminense não caiu pra série B em 2009.

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